Jimmy The Sailor

Vida e Saudade

Livro "Vida e saudade"

Este foi o meu primeiro livro, embora com todos os defeitos que tenha gosto dele.
Um poema:

O Rei
Dou um grunhido de enfado.
Malditas moscas que não param,
zumbem no meu cérebro,
mordem a minha carne já flácida.

Sacudo a irritação e lembro-me…
Da fome,
surda e sem fim.
Contracções de dor arrepanham minhas vísceras.

Levanto-me majestosamente,
sacudo minha farta cabeleira negra,
olho para o horizonte,
olho para o vazio.

De passo trôpego avanço,
coxeando o peso da idade.
Passos pesados e lentos,
arremedos de uma agilidade passada!

Cada passo, um rufar.
Respiração pesada e difícil.
Calor sufocante.

As presas correm,
saltam e brincam desrespeitosas
de sua majestade!

O grupo mais ao longe urra de aviso.
De volta ao parque, a jogar dominó
debaixo de uma árvore, que o sol está forte,
a úlcera a roer as entranhas.

O cheiro penetrante e doce aproxima-se,
cheiro indigno,
cheiro da necessidade.

Levanto-me novamente,
junto-me ao grupo das velhas de negro.
Cacarejam, grasnam e bulham!

Deito-me e começo a saciar.
A fome,
Insaciável.
Cada dentada, um vómito.
Carne com sabor adocicado da putrefacção,
lascas de osso e tripas
respingam,
o zumbido das moscas,
o ladrar das velhas,
as gargalhadas dos corcundas.

Já não há nada.
Carcaça carcomida pelo tempo.
Não vale o esforço!

Com majestade levanto-me
e trôpego dirijo-me para a sombra.

Estendo-me com um grunhido.
Olhos amarelos no infinito,
um bocejo de vida.
O sono que se aproxima,
Que me embala,
e me leva para o meu novo reino.

25 de Junho de 2002

Vida e Saudade na Euedito